Andei cometendo livros de ficção nos últimos anos e deu-me vontade de publicar uma espécie de novela policial que intitulei Bertioga. Senti-me, porém, sem tempo ou ânimo para encarar o risco de uma maratona esquisita de contatos com editoras, sina que pode acometer autores iniciantes dessa modalidade. Como também me desinteressei pelos esquemas de publicação sob demanda, acabei arquivando o livro e a intenção. Passado um tempo me ocorreu publicá-lo na forma de e-book.
Há muitas plataformas de publicação digital e das que acessei interessei-me pela Kindle da Amazon.com, que desde o ano passado aceita livros em português. Ela me pareceu pouco complicada e com bons termos de contrato. Para fins de direitos autorais pode-se optar pelas bases de 35% ou 70% sobre o preço combinado. Consideradas as vantagens e desvantagens, optei por 70, embora essa percentagem só se aplique a compras feitas a partir de países como EUA, Canadá e Reino Unido. No caso de compras do Brasil, valerá sempre 35%. Para autores de fora dos EUA o pagamento é feito através de cheques em dólares. O preço do livro o autor fixa a partir de parâmetros da plataforma. Fixei o meu em US$ 8.45. Novamente, esse preço é para compras nos EUA. Para compras feitas em outros países é acrescido um valor de US$ 2.00 como custo de envio eletrônico.
Faço umas sugestões abaixo para quem quiser ver como a coisa funciona.
O site da Kindle Direct Publishing [KDP] é o ponto de partida. Registre-se como autor e consulte as informações disponíveis. Há várias maneiras de preparar um texto para publicação, o que num primeiro contato pode parecer confuso. Sugiro abaixo a que me parece menos sujeita a problemas. A despeito da gíria técnica, acaba sendo fácil. Se precisar mais detalhes, procure no site.
Prepare seu texto no Word segundo as instruções do KDP clicando no Kindle Publishing Guide, depois Publish Your Content e finalmente no Simplified Guide to Building a Kindle Book. Nada de numeração de página ou notas de rodapé. Fique atento para a instrução sobre Quebra de Página fechando parágrafos e partes e após títulos de capítulo que queira isolar. Revise seu texto e salve-o como Página da Web, filtrada. Ele não será revisado pela plataforma.
Tenha pronta a capa no formato TIFF ou JPEG, com tamanho entre 500 por 1.200 pixels e 72 DPI. Muitos livros digitais dispensam índice. Se for o caso de ter um [eu não quis] prepare a relação de hipertextos usando um editor de html como oSeaMonkey. O download deste e dos dois outros programas mencionados abaixo é gratuito.
Com o programa Mobipocket Creator escolha Import From Existing File, HTML document. Em seguida localize aquele arquivo de texto em html, filtrado e importe-o. Um novo ícone será gerado e acima dele clique em Build. Na página que se abre clique em Cover Image, traga a sua capa e acione o botão Update. Se for usar índice incorpore-o através de Table of Contents. Isso feito clique na caixa Build.
O arquivo transformado pelo Mobipocket [.prc] será salvo numa pasta My Publications. É seu livro, em condições de upload para a KDP. Antes, porém, é conveniente visualizá-lo no programa Kindle Previewer. Se algo não estiver bem, por exemplo, um nome de capítulo mal centrado, o jeito é consertar a partir da versão Word e refazer todo o percurso. A publicação é rápida e não há pagamento a fazer. Menos de 72 horas após ter transferido meu arquivo lá estava meu Bertiogapublicado: http://www.amazon.com/dp/B004KZOQGU
Os procedimentos da plataforma de publicação e de informes aos autores são comandados por inteligência artificial, é claro, que até despacha e-mails de congratulação quando um livro é publicado. Os procedimentos incluem uma central de autores concebida para que as vendas e os direitos autorais sejam acompanhados de perto. É possível entrar em contato com pessoas através do endereço de apoio mas uma questão considerada padrão está sujeita a receber uma resposta automática. Nos fóruns da própria KDP pode-se acompanhar preocupações de autores com esse sistema, seja por terem dificuldade em operá-lo, seja por desconfiarem que não funcione direito. Suas ansiedades cobrem um leque de temas, do upload de seus textos ao pagamento de seus royalties, passando pelas informações sobre seus livros e suas vendas.
É uma mudança e tanto na forma de texto. Como ficarão as editoras nisso tudo? O que significarão suas marcas e práticas longamente construídas nesse contexto de uploads, downloads, blogs, sites, reading devices e plataformas de publicação? Já os autores independentes têm novos desafios e tarefas. Cabe-lhes cuidar da revisão final e da edição de seus livros, tendo que se entender com peculiaridades do mundo digital e com seus programas. Consumada a publicação digital os autores podem ver seus livros colocados na "cauda longa" de que falou Chris Anderson e ficará a cargo deles a tarefa complexa de dar visibilidade ao que produziram.
Por José Luiz dos Santos | Publicado originalmente em Tipos Digitais | 28/02/2011
* José Luiz dos Santos [jlsantos17 @ gmail.com] é um antropólogo que virou escritor. Conheceu Carlo Carrenho, editor deste blog, nos idos de 1998 quando lecionava um curso sobre Globalização na Unicamp e o Carlo era um aluno especial perdido pelos lados de Barão Geraldo. Naquela época, não havia e-books, mas Carlo enviou sua prova final por e-mail.
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